quarta-feira, 8 de abril de 2015

SETE LAGOAS, ESTAMOS NOS DIVORCIANDO.




Tô precisando do frio de Curitiba, e do calor humano de Pernambuco.
Ou até mesmo da insana loucura da capital.
As coisas aqui andam muito amenas, clima ameno, pessoas amenas.
E nada é tão broxante quanto coisas mornas.
Comida morna, café morno, suco morno, gente morna, amizade morna, amor morno.
Eu quis fugir, sem deixar bilhete de despedida na porta. Fazer a mala na calada e me jogar em qualquer outro lugar.
Eu quis ser Caio Fernando, e tirar borboletas da cabeça, precisava fazer meus pensamentos voarem um pouco.
Ando muito com o pé no chão. Centrada e psicologicamente entediada.
Eu to me deixando esfriar, porque o chão daqui rouba meu calor, e não me esquenta de novo.
Eu quis me jogar na multidão, mas ainda me sentia colorida demais num meio cinza.
Fui jogada de volta. Parei na rua, vesti um nariz, as coisas começaram a esquentar.. subia a temperatura, o suor começava a escorrer, tava quase lá... começava a borbulhar... Até o policial me jogar um balde de água fria.
Eu não me encontro aqui, e acabo ficando perdida dentro de mim mesma, nessa devassidão de fazer a mala na calada e me jogar na estrada.
A estrada é uma velha puta, na qual eu adoro me arriscar, mas não quero muito compromisso, eu me enlaço em cidades, mas no fundo, é pra essa velha puta que eu sempre quero voltar.
E aqui, nesse fim de mundo sem graça, eu me sinto naquele casamento, mero existencial, nenhuma vontade de ficar, nenhum tesão em continuar a dormir nessa terra.
Nenhuma alegria nesse bairro amargo. Ou nessa casa apagada.
Salvo algumas boas almas ferventes que mantiveram meu fogo aceso nesses longos 18 anos. Alguns velhos samaritanos irreverentes que me deram o prazer de sua honrada companhia. Desses, com certeza, minha alma vai clamar por um reencontro.
Nessa calmaria, eu não encontro paz... Já vi diversas vezes um rosto meu entrando no rio, e se deixando levar embora.
Faz parte de mim, eu não consigo viver algo muito tempo se não for forte. Precisa me pegar pela cintura e fazer a minha cabeça rodar. É da minha natureza andarilha, vagabunda, e sedenta por novos ares, novas artes.
E no meu eterno dilema de estar louca pra fugir e na eterna vontade de ficar... Faço minha mala devagar, escrevo cada despedida da maneira menos cruel possível, aprecio cada lugar subexistencial que eu criei aqui, pra suprir o que nunca teve, e me despeço do meu melhor romance, aquele água com açúcar, sem muita graça e calor, mas que a gente acaba até gostando porque não provou algo melhor.


-Paula Valentine

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