terça-feira, 22 de julho de 2014

O PASSARINHO QUE EU ROUBEI



Não há muito que fazer aqui em cima, na maioria do tempo é algo bem tedioso. Tocamos liras, voamos e ficamos fazendo coisas boas e ternas, somos puros. E apesar de toda impureza de vocês, são nossos objetos de adoração e proteção.
Minha morte? Não foi algo trágico nem catastrófico. Foi natural. Eu estava em casa, havia acabado de jogar bola,entrei, tomei banho, deitei e dormi, no outro dia quando acordei já estava aqui. Os médicos tentaram explicar à minha família o que houve, desde novo eu tinha problemas cardíacos, porém meus pais preferiram acreditar na tese “Ele cumpriu a missão dele, precisou partir.” Bem típico isso. Os outros anjos foram muito atenciosos e gentis comigo, porém toda essa bondade está chata!
Boa parte do tempo gosto de ficar observando o movimento das nuvens e até ouso causar-lhes movimento, para que assumam determinadas formas. Sempre acreditei que eram de algodão, e depois que vim para cima, tive certeza! As cores do céu, nós que pintamos com um sopro. Esse laranja-avermelhado do pôr-do-sol, o azul-anil, o lilás clarinho das auroras e o manto escuro.
Outra coisa que gosto muito, observar vocês. Sei que não é qualidade anjo, entretanto, sinto inveja. Uma vontade arrebatadora de pode correr novamente, uma vontade de ser humano, de novo.
E num desses dias, eu flagrei um, brilhando mais do que deveria.
Deixe-me explicar, daqui de cima, podemos enxergar todo o brilho de vocês, ou a escuridão. E ele brilhava tanto quanto uma estrela de primavera... dessas que eu adoro ficar perto.
Estava sempre andando com uma menina mais velha, que brilhava também, mas não tanto quanto ele. A principio pensei que eram namorados, depois ao reparar que ela era mais velha e a forma como se tratavam cheguei a conclusão que eram apenas amigos. Estavam sempre juntos, fisicamente ou virtualmente. Era fascinante a maneira como gostavam um do outro e como trocavam palavras absurdamente bonitas, pareciam até com senhor que me cumprimentou em uma nuvem anteontem, Mario Quintana era seu nome. O que achei que era mais uma de minhas tantas observações, começou a ser tornar rotina.
Todo santo dia, eu me debruçava na nuvem rosada para vê-lo. Nem tamanho esse menino tinha, não devia ter mais de 14 anos, mas a alma era imensa. E ele sempre tinha uma solução para todo tipo de tristeza que essa sua amiga tinha. Ele cativava, transformava.

__Com linceça._ Disse o moço de cabelo cacheado-baixo, óculos e barba, alguma coisa Russo o nome dele.

Assustei-me na hora.

__Que susto! Eu poderia ter caído. Se bem que, eu poderia voar de volta._ expliquei-me.

__Desculpe, não era minha intenção. Estou curioso. O que tanto observa meu protegido?

__Ah, o senhor é o anjo da guarda dele?

__Sim. _ responde com firmeza.

__Ah, percebi que isso daqui anda silencioso demais, é porque o senhor está ficando lá embaixo. Estou admirando, como é ser o guardador desse garoto?

Lembrei... Renato Russo, o anjo cantor! Ele deu um breve sorriso ao dizer:

__Não há tanto o que proteger assim, é mais admirar mesmo e guia-lo. Ta vendo a moça, são ótimos amigos, tenho a impressão que passa pela cabeça dos dois algo a mais que isso, mas não posso deixar acontecer. Eles gostam das minhas músicas, elas o protegem, mas que minha presença angelical.

__Maravilha! Mas o que ele tem, que não vi nos outros?

__Luz. Sabe que quando nascemos Ele nos dá uma luz muito grande, certo? E ao longo da vida nós mesmos com nossas ações destrutivas vamos apagando essa luz, no caso desse menino, a dele só vem crescendo, é claro, ele tem defeitos como qualquer um e erra também, mas exercita algo muito interessante, ele perdoa a si mesmo, por ter errado. Certo dia, comentei com um amigo meu, o Caju, que achava que esse menino era um passarinho gigante. _ explicou pacientemente.

__Passarinho?

__Sim, passarinho, vê o quão leve ele é? _ diz o Sr.Renato apontando para o menino, que estava ao lado da moça descendo uma avenida e ambos estavam brincando e rindo.

Olhei fascinando.

__Seu Renato. Quando ele vem?

__Ah, não sei lhe falar, meu trabalho é justamente fazer que ele demore a vir, se bem que sua companhia aqui seria adorável . Enfim, vou consertar minha asa quebrada e descansar. E apesar de ser anjo, percebi que você é um animal sentimental que se apega facilmente ao que lhe desperta o desejo. Tome cuidado hein!

__Sim, senhor obrigado!

Renato deu um sorriso e saiu andando. Ele estava com a asa torta. Quando sua imagem se afastou, tornei a fitar os olhos nos dois lá de baixo. Estavam se despedindo, se abraçavam forte. Percebi que não havia ninguém olhando, então dei uma escapada e desci para ver o porquê estavam se deixando.


A cena era bonita, a energia do abraço era pura, diferente.

__ Quanto tempo vai viajar?_ Perguntou a moça.

__Ah, uma semana mais ou menos. Mas pra mim será quase um século.

__Vou sentir saudades. _ diz ela com uma voz triste.

__ Eu não. _ disse ele.

__ Sério?! Chato!

__ Por que eu sentiria saudades? Tem tanto de você em mim que eu sinto que estou com você o tempo todo.

__Ah. Mas ainda sim, apesar de ter muito de você em mim também, a sua melhor parte, você carrega com você, o abraço.

Eles se abraçaram de novo e ele cochicha algo no ouvido dela que consigo ouvir.

__Quer ouvir um segredo?

__Fala.

__Vou morrer de saudades.

__Não, não morre não! Sinta até doer, mas não morre!

A energia cósmica do abraça se expande, foi algo fenomenal.

_Eeeeeeeeeeei, quer fazer o favor de subir. _grita um velho lá de cima.

Assustado com o grito e inundado com essa catarse, voei para cima rapidamente e quando olhei de relance cada um já tinha tomado seu rumo. Ao pisar na nuvem um senhor me olha, meio mal humorado mas logo desfranzi a testa.

__ O que fazia lá embaixo, meu jovem?

__ Estava observando...

__ Hummmm... Por que não se contenta em observar aqui em cima?

__Porque eu queria ver de perto

__ Não é bom ficar descendo lá pra baixo ouviu bem, e se descer de novo, terei que leva-lo ao Gabriel.

Forcei uma cara de arrependido até o velho anjo se retirar. Já estava escurecendo, e nesse manto escuro procurei uma estrela pra brincar com ela.

Os dias foram se passando e eu ficava cada vez mais obcecado. Até que não agüentei mais. Era manhã de domingo, ele estava arrumando as coisas para retornar.

Procurei o senhor Renato, e o achei em cima do Sol junto à outro moço de cabelo cacheado, o tal do Caju. Os dois tocavam violão de algodão das nuvens.

__Seu Renato! Seu Renato!

__Calma! Ainda é de manhã... O que houve?_ ele parecia preocupado.

__Precisamos trazê-lo. Isso aqui ta um saco! Se ele subir imagine o quanto ficará mais divertido.

__ Não é assim que acontece. _ Responde Caju. _ Não é igual a toda borboleta que só vive 24hrs, cada ser humano tem um tempo diferente.

__ Isso, e além do mais, está sendo egoísta.

__ Nenhum passarinho chega até aqui. Podíamos ter um...

Renato encarou Caju, no fundo eles também já haviam reparado no brilho do menino, e não podiam deixar de expressão uma vontade de posse.

__ Ele não concordaria. _ Disse Renato.

__ Mas, Ele não precisa saber... _ retrucou Caju.

__ Eu tenho um plano.

Conto o plano para os dois e concordam e realmente faz sentindo. Preparamos tudo para que ninguém desconfiasse.




Na fria madrugada, aconteceu. Eu toquei em sua alma e puxei. Ele não entendeu, não compreendia que não estava mais no corpo. Ao ver Renato abriu um largo sorriso.

__Calma, morrer não dói. _ disse Caju puxando suas asas pra fora, elas eram grandes para alguém do tamanho dele e infinitamente brancas. Todos subimos.

Chegando lá em cima, ele percebeu. Estava morto. Queria voltar. Renato explicou que não há como e blá blá blá, bom, quando todo mundo morre é função do protetor explicar essas coisas. Apesar de enquanto vivos sabermos dessa verdade.

__ Mas eu precisava ver minha amiga amanhã, não é justo! E meus pais? O que vou fazer?Preciso voltar! Deixem-me voltar!_ estava apavorado

__ Seus pais vão ficar bem, garoto! Olha quando eu morri por causa da doença, as pessoas ficaram tristes, eu fiquei, queria minha mãe, mas percebi que tudo que eu poderia fazer lá estava feito e que a minha mensagem havia sido passada. Morrer foi parte do meu show, e agora é parte do seu também._ Explica Caju.

O mais novo anjo não se dá por satisfeito.

__Seu lugar é no céu, aquilo lá era ruim demais pra você! _ tento deixa-lo animado.

__Eu sei._responde triste._ Mas era de lá que eu gostava, penso que talvez eu pudesse fazer alguma coisa pra mudar, mas agora é tarde. Eu precisava vê-la.

Eu não podia esconder minha certa felicidade pelo fato de ele agora estar com a gente, mas me senti culpado, pela tristeza evidente em seu olhar.

__ Você vai gostar, podemos brincar com as nuvens, com as estrelas e a Lua de vez em quando permite que a gente durma nela. _ Tento alegra-lo.
Ele dá um sorriso fraco.
Acho que não foi uma boa idéia tê-lo trago. Renato precisava falar com Ele, e dar uma desculpa, dizer que não pode impedir.
Ele ainda tinha luz, mas estava tão triste. Nos primeiros dias é assim mesmo, até a gente se acostumar. Logo ele iria adorar ficar no céu, ele gosta de muita gente que está aqui.
O deixei com Renato, dei uma olhada lá pra baixo e vejo aquela moça.
Está desesperada, a tristeza dela é inconsolável, quer ficar sozinha. Desenha ele em todo lugar que vai, tenta ligar e tem esperança que ele atenda apesar de saber da impossibilidade, a luz de sua alma vai sendo derramada nas lágrimas que ela chora. Jamais pensei que a ligação era tão forte. Ela queria poder abraçá-lo uma última vez, apesar de odiar despedida. As pessoas à sua volta tentam de alguma maneira consola-la, mas é inútil. Ela quer que ele o console, e ele já não pode mais.

Sinto-me terrível e egoísta. Talvez agora mude suas opinião sobre nós, os anjos.

Com o passar dos dias, eu tentava anima-lo, ele já estava melhorando, mas o via tão pouco.

__Caju?

__ Fala camarada!

__ Você viu o menino-passarinho?

__Está na rosada alta. Ali ó!_ diz ele apontando


__ O que será que ele está fazendo?_Ambos observamos.

__Está olhando pra ela. E o interessante, embora ela não o veja, está olhando pra ele também.
As luzes de ambos, aos poucos vão se acendendo.
E pude compreender, tem muito dele na alma dela e muito dela na alma dele. E apesar de eu o ter aqui em cima agora. Sei que ele passará o resto dos dias ali, olhando pra ela.
18/07/2014

Onze dias sem você.
Apesar de tudo, eu não te vejo, mas estarei olhando pra você o tempo todo!

terça-feira, 1 de julho de 2014

PARA O MENINO QUE BORREI DE BATOM VERMELHO

Amor, acho que estou enlouquecendo... Decidi escrever meu último poema, porque escrever tem me torturado, escrever histórias que não são minhas, fluir amores que não amei, matar almas que nem se quer são minhas... Assim quero meu último último poema... Queero que seja terno, dizendo as coisas mais simples e menos intencionais. Que ele arda como um soluço sem muitas lágrimas. Quero nele a beleza de todas flores murchas quase sem perfume... Escreverei com a paixão dos suicidas que se matam sem explicação... Me inspiro na cor dos seus olhos e no gosto bom da sua pele... Desenho você... Com palavras e sentimentos... Meu último poema... Será? Acho que não... Vou ficar louca,biruta Maas não deixarei nunca de te desenhar nas linhas do meu caderno velho. Amor, se eu parar de escrever, enlouqueço? Você fica louco comigo? Para o menino que borrei de batom vermelho.